sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Contos de Asimov #09: "Stranger in Paradise"

    Hallo!

    A resenha/discussão de hoje é sobre um dos "Contos de Asimov" que tem material para ter inspirado muitos autores e histórias deste sua publicação original.
    Para saber mais sobre essa série de post é só clicar aqui.




    "Stranger in Paradise", de Isaac Asimov é um conto de ficção científica que foi originalmente escrito no verão de 1973 e rejeitado por duas publicações até ser incorporado a edição de maio/junho de 1974 da revista If.



     Aviso que neste texto comento alguns pontos principais da história, revelando com isso mais coisas do que faria numa resenha comum, apesar de que não descrevo o final do conto propriamente dito. Então se você não quer ter muita noção do que se trata a história deixe pra ler esse post depois de ter lido o conto.




     Com suas 34 páginas Stranger in Paradise é dividido em 10 partes, que para mim funcionaram como capítulos, e enquanto relata a tentativa dos humanos em enviar um robô adequado para exploração de Mercúrio, aborda um tema totalmente diferente, o estigma e excentricidade de se ter crianças geradas pelo mesmo pai e mãe. 

    Pouco mais de meio milênio se passaram desde a grande Catástrofe, evento que mudou muitas coisas na sociedade humana, sendo a eliminação de família a que mais me chamou a atenção. Pela narrativa da história e pelas lembranças dos nossos dois personagens principais, Anthony e William, descobrimos que no mundo atual cada adulto possui uma cota de filhos que ele pode gerar, e que o senso comum leva a que o mesmo casal não gere mais de uma criança. Full blood brothers (na falta de uma expressão adequada - completamente irmãos por sangue) são vistos como resultado da excentricidade dos pais, aliado a raridade da situação, tornando Anthony e William sujeitos a reação de estranhamento e desconforto das outras pessoas e de si mesmos.
    Não se explica o que ocorreu de tão grave para ser considerado como a Grande Catástrofe, a ponto de mudar tão profundamente uma civilização, contudo pelo tom do texto imagino que tenha sido algum tipo de calamidade/guerra/acidente/doença que tenha exterminado ou comprometido boa parte da população, pois as práticas de reprodução detonam a preocupação em promover a variedade genética e em eliminar indivíduos e características genéticas fracas.
    As crianças são criadas e educadas em creches, podendo ser visitadas por seus progenitores, mas sendo monitoradas e educadas por este tipo instituição (o que me lembrou Admirável Mundo Novo). Essa estrutura me parece ser necessária a este mundo por dois motivos.  
    Primeiro que facilita a quebra da família como instituição, auxiliando na perda da necessidade de um casal manter-se unido num comum esforço pela criação de sua prole, logo as ideias de não se ter um(a) parceiro(a) permanente e de portanto produzir cada herdeiro com pessoas diferentes torna-se mais lógica e aceitável a longo prazo. 
    Segundo que se a criação das novas gerações passa a ser um trabalho do governo, este passa a ter mais controle e jurisdição sobre a vida e destino desses seres. Também facilitando a inclusão da política de se "desfazer" de indivíduos que apresentem traços/características desinteressantes a sociedade. A falta de vínculo familiar ajuda, na minha opinião, a desumanizar essas crianças na mente dos adultos, elas só se tornariam seres relevantes para a sociedade após passarem pelo tempo necessário nas creches.

    Agora, saindo da análise sociológica da história e indo pra técnica encontramos informações relevantes que nos informam que no cenário desse texto os robôs não são tão avançados como nas clássicas histórias do autor. Aqui o cérebro positrônico não passa de uma teoria que ainda não foi conseguida por em prática. Apesar da conquista da parte exterior do nosso Sistema Solar, os computadores não possuem um avançado poder de processamento e é a necessidade de um computador que suporte comandar um robô a extrema distância e com condições de contato complicadas que os dois irmãos até então meio que desconhecidos acabam se reunindo e vindo a trabalhar juntos.

    Anthony é um cientista trabalhando na área de telemetria para o projeto Mercúrio e acaba sugerindo que para o desenvolvimento do projeto possa avançar faz-se necessário a ajuda de alguém com profundos conhecimentos do cérebro humano. Alguém que os ajudasse a desenvolver e programa um computador para que este agisse e tivesse uma capacidade de processamento parecido com a humana. Só assim, o controle do robô exploratório em Mercúrio poderia ter alguma chance de sucesso.
    O que Anthony não esperava (ou será que algo no fundo da sua mente não fosse a influência que o fez sugerir a solução acima?) era que o "homologist" (algo como um geneticista) escolhido para o projeto fosse ser o seu esquecido irmão mais velho. E, o pior, William e ele são extremamente parecidos fisicamente.
    A partir desse encontro o foco da tensão social acaba sendo trocada, aos poucos, pelo desafio tecnológico que precisa ser conquistado, e algumas soluções e técnicas são bem bacanas, a maioria pode até ser considerada simples para as mentes de hoje, mas suas ideias são atrativas para o problema enfrentado.

    No entanto, o que realmente me chamou a atenção nesse conto foi a parte de construção da sociedade vigente, e como para ela a sobrevivência de uma espécie forte e capaz se sobrepunha fortemente ao indivíduo. Os "geneticamente fracos" passam a ser alvos do descarte, ou do interesse nem sempre indolor de pesquisadores.

    Gostei muito desse texto. Com certeza ele me colocou no modo de reflexão. 
    Se você já o leu me conta o que achou.


    Ha det bra!!

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